Reportagem
No dia 22 de Dezembro de 2012, entre as 10h e as 17h, realizou-se no Palácio Ceia, em Lisboa, o Workshop W3i - «Investigar na Era Digital», organizado pelo Mestrado em Pedagogia do eLearning (MPeL) e pelo Laboratório de Educação a Distância e eLearning (LE@D) da Universidade Aberta.
Sob a orientação da Professora Lina Morgado e do Professor António Quintas Mendes o Workshop contou com a presença de diversos oradores que abordaram diferentes temáticas e ferramentas no domínio da investigação académica no contexto da Web 2.0.
Cristina Costa, gestora de tecnologias de aprendizagem e investigação na Unidade de Desenvolvimento Académico da Universidade de Salford, Reino Unido, fez uma apresentação intitulada “Ensinar e aprender em contexto… com a ajuda da web”.
A apresentação de Cristina Costa centrou-se nas suas experiências ao longo dos vários anos e nas diferentes atividades que desenvolveu, partindo de uma abordagem centrada na investigação-ação, em que descreveu a criação de diferentes ambientes baseados na Web que valorizam a participação, a reflexão e a interação, para fazer face a um determinado problema que foi identificado e que necessitava de uma intervenção que resultasse num êxito significativo para a aprendizagem.
Depois de uma primeira experiência, menos boa, ligada à criação de blogues, a primeira experiência de êxito relatada foi desenvolvida na Marinha quando Cristina colocou o desafio a uma turma de marinheiros de criarem mensagens, em inglês, alusivas ao Dia dos Namorados, para publicar na Web em forma de podcast no intuito de motivar esses alunos, conquistar a sua confiança e de melhorar a sua forma de comunicar em inglês. Uma outra experiência realizada na marinha teve por objetivo melhorar a escrita em inglês de uma turma de recrutas, recorrendo aos blogues, que teve por motivação a competição com os alunos da sala do lado. Cristina abordou ainda a criação de uma Webquest para motivar a colaboração entre todos os elementos de uma determinada turma. A passagem pela Marinha ficou ainda marcada por uma experiência em que os alunos tiveram que criar uma entrada na Wikipedia, em inglês, de um Almirante português, Vicente Almeida d'Eça, que acabaria por dar lugar à criação de uma página de tributo a esse Almirante, uma Photostory e um podcast, todos publicados na Web, que resultaram da iniciativa dos próprios alunos e que superaram as expectativas de Cristina.
Já no contexto da sua experiência na Universidade, Cristina Costa abordou o projeto “Residence Abroad”, em que os alunos do curso de línguas são enviados, durante um ano, para um ou vários países da língua (ou línguas) que estão a estudar, na Europa ou mesmo fora dela. Esses alunos eram habitualmente avaliados quando regressavam à Universidade através de um relatório, escrito na língua do país em que estiveram a estudar, que pretendia captar as experiências vivenciadas nesse período. Contudo, os relatórios revelavam-se normalmente superficiais, sendo na maioria dos casos realizados quando o aluno já estava de regresso e não reproduziam as experiências ao longo do tempo. Perante a evidência de que a avaliação e a comunicação com estes alunos não estariam a resultar, construíram uma rede social para estes alunos poderem comunicar e registar as suas experiências. Os alunos nas duas primeiras semanas passaram a ter que capturar a experiência cultural do país, através de fotografia (Photostory), e partilhar essa experiência com os outros colegas, o que aliás já fazem habitualmente no Facebook para o seu grupo de amigos. Para além disso, a rede social contempla blogues individuais, que podem estar abertos ou não para toda a comunidade na rede, para durante o ano inteiro, os alunos colocarem os seus comentários, reflexões e experiências vivenciadas. Segundo Cristina Costa esta abordagem tem resultado muito melhor e com resultados bem mais interessantes.
Cristina Costa concluiu a sua apresentação com um conjunto de lições que resumem as suas experiências de ensino com os alunos e a sua integração com a Web, destacando a questão da avaliação como a coluna vertebral de toda a aprendizagem.
Seguiram-se algumas questões colocadas pelos colegas que estavam a assistir online e presencialmente.
Quando questionada sobre o modo como definia a avaliação nas suas experiências, Cristina Costa distinguiu os dois contextos relatados. Se por um lado, na marinha tinham exames no final e para motivar os alunos os desafios tinham que ser mais motivantes e competitivos porque estes não faziam parte da avaliação, por outro lado, na Universidade onde Cristina trabalha a avaliação não é standard, pelo que estão a tentar mudar o sistema de avaliação para a avaliação contínua baseada na reflexão e num portfólio (já habitual nas ciências da saúde) e não tanto em exames, embora em algumas áreas ainda continue a prevalecer esse tipo de avaliação.
Ainda sobre a temática da avaliação, Cristina esclareceu que no projeto “Residence Abroad” a avaliação é distribuída por diversos parâmetros, em que a Photostory tem um determinado peso, assim como os comentários no blogue, que são avaliados de acordo com categorias previamente definidas e um número mínimo de comentários, numa avaliação que é contínua ao longo do período de um ano. Os blogues criados pelos alunos estão integrados na própria rede social desse projeto, numa tentativa de criar um espaço suficientemente formal para a avaliação mas por outro lado não demasiado formal, que ainda assim seja um espaço neutro que não se confunda com a rede social de cada aluno. Cristina Costa acrescentou ainda que um outro projeto em curso visa tentar converter os blogues numa identidade digital de cada aluno, no que poderá vir a ser uma outra forma de avaliação no futuro.
Questionada sobre o design das atividades que foram mencionadas, Cristina Costa referiu que esse design foi sempre realizado tendo por base os contextos e os problemas que foram identificados, numa reação ao que estava a acontecer na sala de aulas.
Para finalizar a sua participação no Workshop Cristina Costa respondeu a uma questão sobre a utilização da Web na investigação, referindo que é uma área em que se estão a levantar muitas questões éticas, sendo esta uma discussão em que todos têm que participar para evitar que as opiniões mais negativas sobre a Web prevaleçam neste domínio, apresentando diversas perspetivas e correntes de pensamento sobre o assunto.
Após a apresentação, os doutorandos questionaram o porquê de não se utilizar o Facebook como rede social, pois os estudantes já têm conta aberta e já utilizam esta rede social, tendo Cristina Costa respondido que devido ao cyberbulling não se utiliza o Facebook no âmbito educacional no Reino Unido e por não se poder fazer um backup de toda a informação disponibilizada pelos estudantes para o seu portfólio. Assim, a Universidade disponibilizou o Buddypress, que permite ao estudante estar inserido numa rede social em âmbito educacional e ter acesso a um blog. Estas duas ferramentas permitem ao docente fazer um backup dos trabalhos dos estudantes e ter num só espaço todos os elementos de avaliação.
Twitter durante a comunicação - «Ensinar e aprender em contexto... com a ajuda da web»
Durante a comunicação de Cristina Costa existiu participação ativa dos estudantes de Doutoramento, presencialmente e online através do twitter nas Hashtags #w3i e #emerg12. Como se visualiza nos seguintes tweets.